Durante o mês de março quem ama cinema terá a oportunidade de acompanhar a segunda edição da Mostra Amotara – Olhares das Mulheres Indígenas, cujo objetivo visibilizar as vozes das mulheres indígenas, a fim de diversificar a percepção do que é cinema. O evento acontece através do site amotara.org e é totalmente gratuito.
Criada em 2018, a Mostra Amotara tem ainda como objetivos fortalecer mulheres artistas, realizadoras de audiovisual, através da partilha de experiências com as cineastas indígenas. O nome Amotara é uma homenagem à anciã do povo Tupinambá de Olivença, Nivalda Almaral, uma liderança histórica. Trata-se de uma iniciativa e idealização da produtora cultural Yawar e da jornalista Joana Brandão, produzida em parceria com a Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB.
Conforme a jornalista, cineasta e uma das idealizadoras da Mostra, Olinda Wanderley, a sociedade de um modo geral tem seu próprio conceito do que é cinema, normalmente baseado nas visões eurocêntricas; e as mulheres indígenas têm essa sede de mostrar suas lutas cotidianas e suas visões de mundo através do audiovisual. Ela diz que os povos indígenas costumam ser invisibilizados, ignorados pela mídia hegemônica e que os indígenas começaram a perceber que somente seriam representados caso eles mesmos começasse a fazer audiovisual. “A gente sente muito o fato de nunca ter tido espaço na mídia, ainda que a nsosa luta seja comum à todos – a relação com a terra. Quando a gente é mostrado é sempre como invadores de terra”, reclama.
Pouco espaço para o audiovisual indígena
Para Olinda, a maioria das mulheres e homens indígenas começou a fazer cinema primeiramente com o objetivo de mostrar as lutas cotidianas, como a luta pela terra e as denúncias; mas logo depois perceberam que poderiam transcender essas abordagens e passar a retratar outras questões, como suas cosmovisões. Ela, por exemplo, que em 2015 produziu “Retomar para Existir”, documentário de 20 minutos que conta a história do líder cacique Nailton Pataxó e sua luta para reconquistar o território do povo Pataxó Hã-hã-hãe, em 2020 produziu o longa “Kaapora – O chamado das matas”, que narra a ligação dos Povos Indígenas com a Terra e sua Espiritualidade. O longa tem a cosmovisão indígena como lente, a partir de Kaapora e outros personagens espirituais que conduzem a narrativa e argumento do filme.
Olinda chama a atenção para as dificuldades que as mulheres indígenas têm para produzir audiovisual. Conforme ressalta, são poucas as oportunidades, por exemplo, para participar de oficinas e se apropriar das técnicas do fazer cinenama e audiovisual. A cineasta ressalta, ainda, os poucos espaços dedicados ao escoamento da produção cinematográfica indígena; e destaca o Cine Kurumin como um dos poucos espaços existentes neste sentido, assim como as universidades, o que ainda é insuficiente para estabelecer uma equidade com relação ao cinema tradicional.
A Mostra Amotara – Olhares das Mulheres Indígenas é, portanto, um espaço crucial de visibilização do fazer dessas mulheres, que ganam destaque não apenas no processo de produção como também na Curadoria, uma vez que componhem, junto com mulheres não-indígenas, o time de Curadoras.
A primeira edição da Amotara aconteceu de 30 de julho a 04 de agosto de 2018, através de um projeto de extensão da Universidade Federal do Sul da Bahia – UFSB, com atividades em diversas localidades do extremo sul baiano. Por conta da Covid-19, essa segunda edição, que ocorrerá do dia 2 ao dia 31 de março será realizada de forma virtual.
Nesta segunda edição a Mostra contará com 40 filmes selecionados pela curadoria, entre produções inscritas e convidadas. As sessões de exibição são gratuitas e on-line e podem ser acompanhadas através do website https://amotara.org/. O evento contará ainda com debates que acontecerão nos dias 4, 11,18 e 25.
A Mostra é viabilizada através do Edital Setorial de Audiovisual, com apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.