Ao lado apenas dos piores destruidores climáticos da Terra com suas lentas atividades destrutivas, um dos melhores passos que poderiam ser dados para este planeta seria a destituição dos destruidores da floresta tropical da Amazônia. O Brasil é liderado por um dos principais palhaços demagogos fascistas do mundo, conhecido pelo nome de Jair Bolsonaro. Seu principal adversário na política brasileira é o homem contra o qual todas as acusações criminais acabaram de ser retiradas – acusações criminais que foram feitas por uma empresa criminosa disfarçada de uma emboscada pela justiça. Seu nome é Lula.

Eu gostaria que os movimentos políticos pudessem superar a necessidade de líderes notáveis que passaram décadas desenvolvendo o reconhecimento do nome e o compromisso com os oligarcas. Desejo que quando o povo do Arizona quiser esmagadoramente um salário mínimo mais alto, eles possam simplesmente votar para que isso aconteça, em vez de esperar anos e depois escolher entre algum plutocrata horrendo e uma mulher que fisicamente não consegue reprimir seu contentamento em negar os desejos da maioria das pessoas que ela “representa”. Mas não costumo receber coisas só por desejar, e estaríamos todos melhor se Lula colocasse Bolsonaro no olho da rua no próximo ano.

Um grande histórico do que aconteceu no Brasil nos últimos anos pode ser encontrado no novo livro de Glenn Greenwald, Securing Democracy: My Fight for Press Freedom and Justice in Bolsonaro’s Brazil (Garantindo a Democracia: Minha Luta pela Liberdade da Imprensa e Justiça no Brasil de Bolsonaro, tradução literal). Este não é apenas um resumo e análise convincente dos eventos públicos, mas também um relatório interno de como alguns desses eventos vieram a ser. Os brasileiros não têm, é claro, uma democracia direta, mas, tomando a “democracia” como uma espécie de governo representativo, eleições um tanto abertas e confiáveis, os rudimentos de um equilíbrio de poderes independentes e responsáveis, e o respeito aos direitos políticos, incluindo a liberdade de expressão e de imprensa, o Brasil tem a democracia mais segura agora do que há alguns anos, em grande parte devido ao trabalho de Greenwald e seus colegas narrado neste livro, trabalho também responsável, principalmente, pela libertação de Lula da prisão.

Sérgio Moro foi um juiz que iniciou um grande esforço anticorrupção em 2014 que cresceu com a cobertura da imprensa e do ego de Moro, e condenou Luiz Inácio Lula da Silva em 2017, abrindo a porta para Bolsonaro, que em retorno fez de Moro seu superpoderoso oficial da lei. Greenwald, originário dos Estados Unidos, viveu no Brasil durante anos, expôs as histórias de Edward Snowden e foi muito apreciado pelo governo brasileiro e pela mídia por revelar a espionagem do governo dos Estados Unidos sobre o governo do Brasil. Porém em 2019, Greenwald pôs as mãos em outra pilha maciça de documentos que um governo não queria que ninguém visse, e desta vez foi o governo brasileiro.

Greenwald conta como conseguiu os arquivos, o que fez para verificá-los, o que fez para minimizar os riscos e o que fez para maximizar o impacto – tudo o que espero que deva ser ensinado mais em todas as escolas de jornalismo, talvez tirando um pouco de tempo das aulas sobre como entrevistar a realeza ou como obter acesso aos funcionários de alto escalão (se estes estiverem separados uns dos outros). Greenwald e seus colegas da The Intercept e outros meios de comunicação com os quais fizeram parceria revelaram que Moro, a face pública da integridade e da justiça, vinha trabalhando secretamente e ilegalmente com promotores de justiça para vítimas de seu projeto “anticorrupção” conhecido como Operação Lava Jato. Entre essas vítimas estava Lula.

A acusação de Lula e o ódio da direita sobre Lula podem ter sido impulsionados por seu significativo sucesso. Em toda a minha vida, Os Estados Unidos não presenciaram algo assim, mas isso acontece. Quando Lula estava no comando, os pobres ficaram mais ricos, mais instruídos, mais saudáveis e mais felizes. O exemplo inspirou / aterrorizou as pessoas em outros países, assim como no Brasil. O mandato de Lula acabou em 2010 com uma taxa de aprovação em torno de 90%. Ele escolheu uma sucessora, e ela sofreu um impeachment por corrupção feito por políticos cínicos muito mais corruptos. Lula deveria retornar, até que a Operação Lava Jato se instaurou.

Quando aconteceu, parecia uma sonda anticorrupção.  Até Greenwald conta que ficou satisfeito com o espetáculo incomum (para qualquer pessoa dos Estados Unidos) de ver pessoas poderosas mantidas sob o Estado de Direito. Seu livro é um relato pessoal, uma visão da cultura brasileira e um drama tudo-em-um do caso Watergate. Greenwald tornou-se o alvo mais odiado e ameaçado dos bandidos e capangas de Bolsonaro – sobre os quais talvez o fato mais revelador seja que, quando Moro finalmente desistiu e acusou Bolsonaro de vários crimes, eles começaram a usar o relatório de Greenwald para transformar Moro em seu novo inimigo número um.

Suspeito que existe um fenômeno não totalmente alheio, em certas mentes que apreciaram a reportagem de Greenwald sobre os erros cometidos pelos EUA quando Bush foi presidente, e talvez até um pouco quando Obama foi, mas acreditaram que os comentários sobre erros cometidos por Joe Biden – durante uma eleição pelo amor de Deus – estava levando tudo isso um pouco longe demais. Bem, talvez sim, mas eu não acho. Discordo de numerosas posições tomadas por Greenwald, mas nenhuma que encontrei neste livro, que recomendo a qualquer pessoa interessada em jornalismo, em derrotar o fascismo ou em preservar a vida na Terra.


Traduzido do inglês para o português por Larissa Dufner / Revisado por Doralice Silva