Nesta terça-feira, 61 meses após o crime, Roberto David Castillo Mejía se sentará no banco, acusado de ser co-autor do assassinato de Berta Cáceres.

Castillo foi presidente da Desarrollos Energéticos SA (Desa), empresa detentora da concessão para exploração do rio Gualcarque e promotora do projeto hidrelétrico Agua Zarca, contra o líder indígena lenca e o Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh) lutou durante anos.

Para a família de Berta e Copinh, este julgamento não é apenas a chave para demonstrar a responsabilidade de Castillo no crime, mas também para demonstrar a participação de outros perpetradores que continuam impunes.

Em nota, o Copinh, a família de Berta Cáceres e a equipe jurídica lembraram que o julgamento de Castillo é apenas a primeira etapa do “processo de julgamento das pessoas envolvidas no crime”.

“As provas que existem contra o senhor David Castillo Mejía estão em poder da administração da justiça há cinco anos. São evidências conclusivas e irrefutáveis para comprovar sua participação como coautor, ou seja, como elo entre os autores do material e os executivos da empresa Desa (família Atala Zablah).

Nós, junto com a família e o Copinh, estamos prontos para o início, meio e término do julgamento. Dessa forma, podemos passar para outra fase do caso Berta Cáceres”, disse Víctor Fernández, membro da equipe jurídica.

Para o ex-promotor, a perseguição aos verdadeiros atores intelectuais, que como Castillo estão perfeitamente identificados, deve ser uma prioridade.

“Esperamos que o sistema de administração de justiça tenha independência, determinação e coragem para investigá-los, processá-los e condená-los. Este é mais um dos desafios que nos esperam”, afirmou Fernández.

Sistema financeiro culpado

Há outro elemento extremamente importante que o Copinh retoma em sua declaração e que a equipe jurídica destaca.

“Nada do que aconteceu a Berta teria sido possível se o sistema financeiro nacional e internacional não tivesse financiado o projeto Água Zarca. Além disso, muitos dos crimes ocorridos em nosso país não teriam ocorrido se o sistema financeiro nacional, internacional e multilateral não tivesse continuado a apoiar tais projetos.

Fazer justiça na causa de Berta Cáceres é fazer com que o sistema financeiro, os bancos nacionais e internacionais, os bancos multilaterais, todo esse sistema que pretende promover o desenvolvimento entendam que o financiamento do projeto Água Zarca desencadeou uma escalada de violência no município de Lenca, gerou um onda de corrupção e instalou no país uma verdadeira associação ilícita para cometer um crime.

Nesse sentido, continuou Fernández, outro desafio do caso Berta Cáceres é justamente o de levar ao banco dos réus tanto o sistema financeiro quanto os agentes públicos que participaram, por ação ou omissão, desse crime.

Uma etapa a mais

Em dezembro de 2019, os autores do assassinato foram condenados entre 30 e 50 anos de prisão, incluindo ex-líderes e membros da segurança do Desa, ex-militares e militares ativos.

Agora a tarefa é processar os autores intelectuais e o sistema financeiro e reverter a corrupta e desastrosa concessão do rio Gualcarque que, após cinco anos do assassinato de Berta Cáceres, ainda está em vigor.

“Nosso objetivo é a justiça integral, que implica verdade, reparação e não repetição dos crimes que aqui foram cometidos”, concluiu Fernández.


Traduzido do espanhol por Mercia Santos / Revisado por Tatiana Elizabeth