Por que fazer uma lista dos melhores discos da música brasileira?
Há tantas listas por aí. Tantos álbuns já estabelecidos pela crítica especializada – de agora e do passado. Tantas listas de fim de ano e indicações de “melhores álbuns”, por sites, revistas e pessoas à nossa volta. E é exatamente por isso que essa lista se justifica: há muita coisa por aí, muito o que ouvir, escolher, refletir sobre e se emocionar, mas nem tudo o que nos é apresentado tocará a nossa alma; às vezes, apenas uma pequena parcela disso tudo nos será relevante/agradável. Além disso, são muitos os artistas, álbuns e músicas que não se encontram contemplados nesse reduzidíssimo panteão de privilegiados. Há muito o que ser descoberto, muita música feita especialmente para nós e que está perdida por aí. Essa lista é o recorte da minha experiência individual de exploração; sugiro que todos realizem esse libertador processo, de acordo com as próprias possibilidades, realidades e tendências.
O que fundamentou essa lista?
Por volta de 2008, resolvi enfim sair de uma agoniante zona de conforto enquanto ouvinte musical. Iniciei as novas escutas por algumas “pontas de iceberg” da música brasileira, o que me proporcionou um panorama muito interessante, além de descobertas que mudaram minha vida. O blog Brazilian Nuggets, de Fabio Peracoli, o livro 300 discos importantes da música brasileira, de Charles Gavin, Tárik de Souza, Carlos Calado e Arthur Dapieve, as resenhas e diversas listas do site Miojo Indie, de Cleber Facchi, e os incríveis três volumes de Lindo sonho delirante, de Bento Araújo, foram algumas fontes meticulosamente exploradas, bem como outras incontáveis listas e indicações feitas por pessoas da minha convivência. Os mais de 1000 álbuns dessas referências iniciais apresentam um interessantíssimo panorama da música brasileira. Entretanto, meu maior aprofundamento se deu na escuta de mais de 200 discografias completas dos artistas que mais me interessaram, das mais diversas linguagens. Vale ponderar que os 107 álbuns dessa minha lista final são, para mim, melhores que todos os outros que foram ouvidos/analisados ao longo desse processo.
Essa lista é uma celebração do que mais me chamou atenção na música brasileira, e em nenhum momento desmerece os artistas que não a integram. Há muitos álbuns que me são agradáveis, mas não a ponto de integrar a lista. Há muitos artistas com músicas, ideias, representatividade e trajetórias incríveis, mas que não me convenceram no formato álbum como um todo. Ademais, toda a música, inclusive a que eu evito ou não me agrada, tem seu lugar, seu público, e merece ser respeitada.
Quais os limites da lista?
Esta lista compreende álbuns de música popular por artistas brasileiros ou radicados no Brasil. Não incluí álbuns de música de concerto (a música “clássica”), o que merece uma lista à parte, que devo elaborar no futuro.
Como foi realizada a seleção dos álbuns e seu ranqueamento?
Entre 2017 e 2021, pré-selecionei 529 álbuns com potencial para essa lista, e que passaram por um processo avaliativo pelo menos duas vezes, o que se deu da seguinte forma:
1 – Cada faixa do álbum recebeu uma nota, uma mensuração quantitativa do que esta significa qualitativamente para mim, da seguinte forma: excelente (10), muito boa (9), boa (8), regular (7) e ruim (6). Caso a música fosse superlativamente perfeita, recebia uma excepcional nota 11. Quanto mais a impressão da faixa fosse ficando pior do que ruim, a nota poderia ser 5, 4, 3 ou 2 (a menor nota que dei para uma faixa). As notas representaram, de certa forma, tanto a faixa isolada quanto seu papel no contexto do álbum.
2 – Caso mais de 30% do álbum fosse avaliado como regular ou ruim, este era reprovado – salvo raras exceções nas quais não se ultrapassava muito dos 30%, e que realmente valia a pena manter o disco, por conta das outras faixas.
3 – Quando aprovado, calculei a porcentagem do tempo de cada faixa em relação ao tempo total do álbum, multipliquei pela nota dada, e somei as notas de todas as faixas, obtendo assim um resultado numérico final para cada álbum. Nos dois casos de empate, realizei sorteios.
Minha grande parceira da vida e da música, Sabrina Souza, esteve comigo nesse instigante processo de avaliações, ponderações, ressignificações, descobertas, desapegos e reflexões.
Essa lista é permanentemente uma “palavra final” de seu criador?
Não. Se feita daqui a um ano, provavelmente a ordem dos álbuns seria diferente, alguns estariam fora, outros seriam incluídos. De toda forma, os que aqui se encontram sobreviveram a uma certa passagem de tempo (seja de alguns meses ou mais de 20 anos de escuta), bem como a um rígido (quem sabe até antiartístico) processo de avaliação. A sistemática utilizada para a elaboração dessa lista foi a mais divertida, organizada e fiel à realidade que encontrei para compartilhar meus discos favoritos com as pessoas.
Agradeço imensamente a todos e todas que compartilharam música comigo na vida, das mais diversas formas. Para vocês, e para quem mais se interessar, compartilho, pouco a pouco, a lista dos (meus) 107 Melhores Discos da Música Brasileira, através de breves resenhas e pessoais meditações.