O meio ambiente é uma das preocupações mais atuais nas sociedades ocidentais, enquanto que as mudanças climáticas nunca foram tão visíveis. É necessário, portanto,integrar o conhecimento ambiental à educação como forma de educar para mudanças de curto prazo, ao invés de continuar a prever sem saber onde a crise climática que estamos atravessando nos levará.

No período de 5 a 14 de outubro de 2021 foram realizadas as jornadas de educação ambiental. Para o evento, o Centro de Pesquisa em Educação e Formação em Meio Ambiente e Ecocidadania (Centr’ERE) organizou uma série de palestras públicas na Universidade de Quebec em Montreal (UQAM), incluindo a de 13 de outubro intitulada Desafios da ERA em um momento de grande turbulência.

Nesta apresentação bilíngue, conduzida pelo Professor Emérito do Departamento de Didática da UQAM e membro fundador do Centr’ERE, Lucie Sauvé passou a palavra a Édgar J. González Gaudiano e Catherine Larrère.

Segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisas Educacionais e Diretor Geral da Unidade de Pós-Graduação da Universidade Veracruzana no México, Édgar J. González Gaudiano, o tema das mudanças climáticas deve ser revisto. Ele lembrou as principais manifestações desse colapso climático como incêndios, furacões, ondas de calor ou mesmo a modificação do ciclo da água e o derretimento do permafrost, insistindo no fato de “que devemos parar de falar sobre o que vai acontecer, em escalas de tempo mais ou menos longas, mas conversar sobre o que está acontecendo agora e os problemas que estamos passando”, garantiu.

Segundo ele, a solução se divide em linhas de ação; a primeira diz respeito ao nome dado às mudanças climáticas. Os nomes usados de acordo com as línguas, as regiões ou os países são tantos que contribuem para a confusão que reina em torno do fenômeno. Seria necessário, portanto, encontrar um nome genérico para padronizar o discurso sobre o assunto.

A segunda estaria mais particularmente ligada ao mal-entendido que gira em torno do buraco na camada de ozônio. Gaudiano acredita que os dados utilizados devem ser mais precisos; no entanto, aqueles que temos sobre este assunto às vezes são nebulosos e causam mal-entendidos entre a população.

Outros mal-entendidos são causados pela ignorância científica de indivíduos que recebem imagens “impactantes”e não refletem sobre elas. As imagens de ursos polares, blocos de gelo ou mesmo a terra em chamas são fortes, mas não são representativas. Edgar argumenta que “não falamos o suficiente sobre a vida cotidiana e o estilo de vida das pessoas”.

Para a filósofa e professora emérita da Universidade de Paris 1-Panthéon-Sorbonne, Catherine Larrère, a solução está nos jovens. Eles são, antes de tudo, o futuro e sofrerão as consequências de nossas ações presentes. Eles também são a fonte da consciência ambiental atual. Segundo Larrère, a geração de Greta Thunberg e a dos “woke” são as mais conscientes da situação e das soluções a empreender para inverter a tendência.

Se a tecnologia deve ser aproveitada para compartilhar conhecimentos sobre o meio ambiente, a questão é: “quem vai ensinar aos educadores?”. É a pergunta que nos faz Catherine Larrère. Para ela, “não devemos separar o conhecimento da ação e devemos mudar a nós mesmos antes de mudar a terra ou o resto”. Por isso, é nas escolas que deve ser feita a primeira mudança por um planeta melhor. A filósofa explica que não se trata apenas de ensinar, mas também de educar. Não é tanto o conteúdo que é importante, mas os princípios e a forma de pensar.

A solução da professora é, portanto, focar também no comportamento inato das crianças. É preciso observá-las se comportando com a natureza e os animais, vendo-as adorar descobrir e se maravilhar com a flora e a fauna mas, acima de tudo, “a solução seria não isolar as crianças da natureza”, para não se desconectarem da causa e sim torná-las mais ligads ao nosso modo de vida.

Gaudiano acrescenta que os meios de comunicação, como principal fonte de informação sobre este assunto, devem desempenhar um papel mediador na construção da representação das questões climáticas. Segundo ele, “faltam informações e peças na representação social das mudanças climáticas”e o quebra-cabeça só pode ser completado acompanhando os discursos com evidências científicas concretas e acessíveis a todos. Nesse contexto, ele pensa que a postura negacionista é perigosa.


Traduzido do francês por Aline Arana / Revisado por Adriana Lamour