Devido ao conflito entre Rússia e Ucrânia, estamos vendo uma redução na oferta de produtos como trigo e milho, que correspondem a 20% das exportações globais por esses dois países. Neste sentido, o mundo espera muito do Brasil, devido à capacidade de produção de alimentos que nosso país possui e, sendo assim, é de fundamental importância o papel dos microorganismos. Este e outros temas fizeram parte da 10ª Conferência FAPESP 60 Anos, ocorrida na manhã de quarta-feira, 20 de abril.
Nos últimos tempos a escassez de fertilizantes e o aumento do custo desses produtos passaram a ser uma das maiores preocupações dos agricultores brasileiros após a retomada econômica mundial, sobretudo depois do processo mais agudo da pandemia. Esta situação tornou-se ainda mais preocupante com a guerra entre Ucrânia e Rússia.
De acordo com Joachim von Braun, professor da Universidade de Bonn, Alemanha, espera-se que o Brasil se mobilize para trazer alívio a esse sistema global no que tange à produção de alimentos. Ele disse, entretanto, que, devido à crise, há uma grande volatilidade nos preços e isso pode fazer parte do temor de muitos produtores.
O Professor salientou a necessidade de se manter os mercados abertos, para evitar especulações. Ainda conforme von Braun, é preciso investir em ações de proteção social, em particular proteção alimentaria, sobretudo considerando que “os países mais pobres acumularam dívidas devido à pandemia e, portanto, não têm recursos para financiar essas políticas”, enfatizou.
Conforme Mariangela Hungria, Professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), “é necessário não somente produzir mais alimentos, mas com qualidade, melhorando a agricultura sem derrubar mais árvores”. Neste sentido, salientou a importância dos investimentos em pesquisa na área de bioinsumos. Ela ressaltou a necessidade de o país continuar investindo em pesquisa, sob pena de cessar 50 anos de estudos nessa área.
De acordo com Hungria, a agricultura brasileira emite muitos gases de efeito estufa e os investimentos em microorganismos capazes de substituir os fertilizantes são imprescindíveis. Para ela, temos políticas agrícolas muito ruins, que nos fazem importar 85% de fertilizantes, o que contribui de modo significativo na emissão desses gases.
Na opinião do Professor Laerte Ferreira, da Universidade Federal de Goiás (UFG), o Brasil está entre os cinco países que mais emitem gases que provocam o efeito estufa, emissões que, segundo ele, se acentuaram a partir da década de 1990. O Professor ressaltou que, apesar de o nosso país haver assinado o Acordo de Paris, comprometendo-se a reduzir 43% a emissão desses gases até 2030, a redução somente será possível com a adoção de um modelo sustentável.
Laerte Ferreira destacou que o uso de tecnologias desenvolvidas no país, tais como os bioinsumos, ajudaria nesse sentido. Para ele, é preciso investir na produção de alimentos de uma forma sustentável, sobretudo otimizando o uso das terras já abertas, aliado à utilização dessas tecnologias, “pela própria sobrevivência humana”, sentenciou.
O debate foi moderado pelo Professor Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP). A abertura foi realizada pelo vice-presidente do Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Ronaldo Aloise Pilli. O evento foi transmitido pelo Zoom e pelo canal da Fundação no YouTube.