Nos últimos meses, a população americana enfrentou numerosos desafios em relação à política e a como os cidadãos acham que o país deva ser governado. Esses eventos foram encorajados tanto por Republicanos quanto por Democratas na forma de protestos e desordem, na tentativa de ambos os partidos chamarem atenção do resto do país para seus apelos e opiniões. Estudantes universitários compartilham aqui uma visão única sobre esses eventos e os desafios que eles trazem, já que são um prenúncio de como o mundo estará quando se formarem. Os alunos também mandam uma mensagem única: esperança no futuro.
Os estudantes universitários que entrevistei parecem concordarem que os Estados Unidos, atualmente, aparentam estar muito divididos e em desarmonia. Quando perguntada sobre como o país está se saindo, Kayla, uma estudante de Antropologia e Estudos Internacionais, disse: “Não acho que os Estados Unidos estejam se saindo muito bem. Todos estão separados e parece que não conseguimos concordar em nada.”
Lucy, escritora profissional e minha colega, tem a mesma sensação e foi ainda mais longe na ideia ao dizer que acha que os Estados Unidos está agindo de um jeito bem inadequado. “Parece dividido e pouco seguro. Não parece haver mais um meio termo. Acho que o país precisa focar no todo e não nos diferentes partidos e nas diferentes opiniões. Política não se trata apenas de política, trata-se de direitos humanos. A violência que temos presenciado é perigosa. Eu nunca pensei que veria algo assim. No entanto, agora parece que os Estados Unidos estão se esforçando para se unir.”
Mesmo percebendo que o país não esteja atuando bem, os estudantes têm esperança de que as coisas vão melhorar. Este sentimento foi bem expressado pela estudante de Fonoaudiologia, Katarina. Em suas palavras: “Acho que os Estados Unidos passam por um período obscuro. Espero que com as vacinas e a nova administração as coisas melhorem. Tenho esperanças quanto ao futuro e como o país trabalhará. Eu acho que grupos marginalizados, minorias, como LGBTQ+, portadores de deficiência, mulheres etc. são deixados de lado com muita facilidade. O que de melhor pode ser feito para que este país ande para frente é o presidente levar em conta as vidas de todos os cidadãos ao tomar decisões”.
Após ouvir esta resposta, senti como se fosse importante considerar quais outras ações os estudantes acham que o presidente Joe Biden deve tomar durante seu mandato, especialmente em relação aos últimos acontecimentos. Um assunto trazido em discussão repetidamente por eles foi o movimento “Vidas Negras Importam” (Black Lives Matter – BLM). “O BLM ainda é um assunto urgente e eu considero vital que o presidente escute as minorias e aja a fim de diminuir a desigualdade”, opinou Lucy.
Alicia, estudante de Estudos e Produção de Cinema com foco em Escrita Criativa e Mídias Integradas, concordou com essa declaração e completou: “Tenho me deparado com uma grande discrepância entre as queixas, as quais raramente vêm sendo colocadas em pauta. Assim, o movimento BIPOC (Negros identificando (sic), indígenas e pessoas não brancas) precisa receber atenção, para que pessoas que não façam parte dele, como eu, fiquem sabendo das experiências pessoais de seus integrantes e percebam a disparidade que há no tratamento e na resposta para com eles. Além disso, que possamos reconhecer a humanidade dentro de cada um e tratemos uns aos outros com base nisso.”
Ainda de acordo com os estudantes, Biden deve focar na pandemia. “Biden deve se concentrar na vacina da Covid e distribuí-la. Ele precisa começar a fechar os lugares novamente até que o vírus esteja sob controle. O auxílio emergencial é outra tarefa importante para o presidente, já que muitas pessoas estão tendo problemas financeiros durante a pandemia”, comentou Lucy.
Katarina completa: “O novo presidente deve pensar em soluções para a Covid e buscar ajuda também. Trump nos isolou do resto do mundo e isso não dá muito certo quando estamos desprovidos de equipe médica em uma pandemia. Ele também deve fazer com que o país fique menos dependente de combustíveis fósseis e tentar limitar as emissões de carbono. Tudo o que Biden disse que faria durante sua campanha deve ser feito. Espero que mantenha sua palavra!”
Allan, estudante de Arqueologia, também acha que o foco de Biden deve estar na pandemia. “O decreto sobre o uso de máscaras precisa ser instaurado e cumprido em âmbito nacional. A liberadade em nome do conforto pessoal pode ser atirada pela janela quando estamos falando da segurança do nosso país e de seus cidadãos”, diz ele.
Após ouvir a resposta de Allan, senti que também seria importante saber o que os estudantes acham que os cidadãos poderiam fazer para lidarem melhor com esses tempos turbulentos, uma vez que o problema nem sempre vem de pessoas em posições de liderança. Uma das principais coisas que os estudantes acham que a população deve fazer é educar a si mesma. Na verdade, segundo Kayla: “Se educássemos o povo com os princípios da verdade, talvez nosso país fosse diferente”.
Katarina completa: “Informe-se o máximo que conseguir sem sacrificar sua saúde mental. As pessoas precisam se inteirar mais sobre os assuntos, mas até certo ponto. A política pode se transformar em algo muito triste, opressor e provocador. Aprenda tudo que puder sem destruir a sua esperança.”
Uma forma com que a população dos Estados Unidos pode se educar é conversando entre si e ouvindo os diferentes pontos de vista e perspectivas de outros povos. Como estudante de antropologia, presencio todos os dias conversas entre outros estudantes do mesmo curso e de áreas relacionadas. Eles discutem sobre o que acham que o país precisa fazer para mudar suas políticas e prioridades. Para esses estudantes, não se trata de escolher um lado —Republicano ou Democrata— e decidir qual está certo e qual está errado. Trata-se de conversar e respeitar a opinião do outro, buscando como todos nós, cidadãos americanos, podemos melhorar. Sob um ponto de vista mais apurado, Katarina diz: “Se 2020 me ensinou algo, foi que todos nós (incluindo os líderes deste país) precisamos escutar mais uns aos outros e tentar entender outras perspectivas”.
Muitos estudantes só querem que suas vozes sejam ouvidas num momento em que o mundo está constantemente pedindo-lhes que fiquem quietos. Na verdade, muitos estudantes com quem eu interagi mencionaram que os membros de suas famílias e outros adultos lhes dizem que a faculdade faz lavagem cerebral, mas, na realidade, eles estão recebendo um tipo de educação e aprendendo de verdade sobre o mundo em um ambiente que não é aquele ditado pela mídia. “Acredito que nossa geração recebe notícias e informações de um modo diferente das gerações anteriores”, disse Alicia. Há pouca coincidência na forma como vemos (ou mesmo no que estamos vendo) e em como interpretamos os acontecimentos. Mesmo assim, não quer dizer que a geração atual seja unida em seus pontos de vista, já que cada indivíduo tem sua própria opinião”.
Por experiência, descobri que as pessoas tendem a evitar conversas com outras pessoas quando sabem que seus pontos de vista diferem. Com isso em mente, perguntei a esses estudantes como conduzir com respeito uma conversa com quem tem diferentes pontos de vista e opiniões, e como eles podem transformar essa conversa a favor de educá-los.
Allan compartilhou sua própria experiência quando lhe perguntei isto: “Esta é uma situação com a qual tenho lutado. Meu pai tem pontos de vista muito diferentes dos meus, e toda vez que tento discutir com ele, ele pede para eu calar a boca, alegando que sou jovem demais e não sei o bastante sobre o mundo. Acho que ambos os lados de uma discussão merecem ser respeitados e compreendidos. Para evitar tensão, certifique-se de que qualquer preconceito seja exposto antes da discussão. Embora as opiniões possam ser diferentes, elas ainda existem por sua própria vontade e por isso devem ser tratadas com respeito, não importa o quanto você discorde. Não entre numa conversa com a intenção de mudar o ponto de vista do outro. Somente eles podem fazer isso. Tudo o que você pode fazer é oferecer-lhes informações que talvez os façam mudar de posição. Certifique-se sempre das fontes, não divulgue falsas informações ou sua credibilidade pode ir por água abaixo.”
Lucy também teve muito a dizer sobre este tópico: “Conversas podem ser levadas com respeito entre aqueles com diferentes pontos de vista se estiverem abertos a ouvir e reconhecer a opinião do outro lado. É possível aprender muito do que se ouve dos outros, e eu acho que isso é importante para ora concordar, ora discordar. Pode ser difícil, principalmente em conversas sobre raça. As pessoas ainda são negacionistas sobre a realidade do racismo neste país, mas é importante ensiná-las e expô-las às novas informações.
Alicia relacionou este conceito à sua experiência na faculdade, a qual considerei importante de se pensar a respeito. “Para mim, a faculdade é um lugar para fazer perguntas, olhar para a fundação sob meus pés e questionar sua existência. Acho que todos podem se beneficiar disso; o pensamento crítico nos permite parar de absorver as opiniões alheias e formar nossas próprias.”
Katarina continuou: “As pessoas ainda podem ter diferentes opiniões e ainda assim conversar umas com as outras com respeito. Divergências em opiniões políticas nunca deveriam se interpor entre as pessoas”.
Todos esses estudantes compartilharam pontos de vista enriquecedores sobre a situação atual dos Estados Unidos, além de um sentimento inerente de esperança no futuro. Acredito que essas mensagens podem oferecer um bom ensinamento a todos, conforme o futuro continua a ser escrito.
Rebecca Diers é estagiária na Pressenza como parte de seu curso de Escrita Profissional na SUNY Cortland, Universidade Estadual de Nova Iorque. Também como estudante de Antropologia, consegue alimentar sua paixão por entender diferentes culturas e criar conexões com as pessoas. Com a escrita, ela consegue dar sentido para o mundo e inspirar um sentimento de humanidade em seus leitores.
Traduzido do inglês para o português por Gabriela Assis Santos/ Revisado por Rubia Gomes