Entre os efeitos mais graves da pandemia e suas restrições está o acesso limitado à educação e o consequente enclausuramento dos segmentos infanto-juvenil da sociedade. Nos países menos desenvolvidos e onde se observam grandes desigualdades, a questão das políticas públicas para a educação tem sido manipulada, não só pela conveniência política de manter cidadãos incapazes de compreender, avaliar e participar ativa e conscientemente nos processos de governança, mas também para instalar um trabalho em benefício do setor econômico. Ou seja, quanto menos educação, mais mão de obra barata e disposta a aceitar condições mínimas de trabalho.
Aqueles que acabam sendo sacrificados – como bodes expiatórios – são as novas gerações. Se a educação pública, na maioria de nossos países, tem sido deficiente e cada vez mais escassa, a pandemia veio expor a miserável infraestrutura educacional e a pobreza de todo o sistema. As condições dos estabelecimentos são terríveis e, definitivamente, impossíveis de utilizar em um ambiente de emergência sanitária. Muitas das escolas carecem de serviços básicos como água potável e banheiros decentes, portanto, mandar as crianças à escola as condenaria propositalmente ao contágio seguro.
As opções, entretanto, não são a panaceia para esse enorme contingente de crianças e adolescentes em vias de receber educação. Os governos começam a propor medidas como a educação a distância, sem considerar que, para a grande maioria das famílias, a tecnologia é inatingível porque vivem na pobreza e nunca tiveram acesso a ela. Mas essa realidade não atinge apenas as crianças, nem é uma solução válida para milhares de mães, pais e professores que não podem entrar em um campo totalmente novo e desconhecido dos códigos virtuais. Portanto, as soluções propostas a partir do topo só são viáveis para uma porcentagem minoritária da grande população estudantil.
Soma-se a isso o confinamento desse segmento, para o qual o exercício, a diversão e o contato com seus pares têm se limitado ao extremo de causar depressão, alteração de comportamento e, em alguns casos, até tentativas de suicídio por viverem trancados em ambiente de violência doméstica. As crianças e adolescentes precisam do brincar e do convívio social como uma das atividades mais importantes para o seu desenvolvimento. Privá-los por muito tempo deste fator fundamental terá efeitos de curto, médio e longo prazo, com o agravante de causar, como efeito colateral, uma inevitável tensão dentro do lar.
É imperativo colocar a educação e os direitos inalienáveis das crianças e jovens no centro do debate político e não subestimar o impacto que isso terá na vida e no desenvolvimento das nações. Por se tratar de um setor historicamente marginalizado, cujas demandas muitas vezes são silenciadas pela força e pela repressão, dar-lhes um espaço de participação na tomada de decisões pode representar uma mudança positiva e necessária para encontrar uma saída para a crise atual. Em países tão inclinados a privilegiar os interesses do setor empresarial sobre os interesses dos cidadãos, os governos têm se submetido à regra de “menos educação, menos participação política” e, portanto, menor risco de perda de cotas de poder. É hora de mudar a polaridade política na direção certa.
Traduzido do espanhol para o português por Mércia Santos / Revisado por Graça Pinheiro