A gente se perde pelo caminho. Ainda ouço a voz de Gérard Philippe, no disco de vinil do Pequeno Príncipe da minha infância, sussurrando ao meu ouvido: “Então eu vivia sozinho, sem ninguém com quem conversar de verdade …”

Eu devia ter 11 ou 12 anos quando, sozinho no meu quarto, antes de me juntar à família reunida em uma ocasião especial, fiz esta promessa para mim mesmo: “Mais tarde, quando tudo isso acabar, serei novamente eu mesmo. ” Em outras palavras, quando eu tiver cumprido todas as obrigações que me pedem, voltarei ao abrigo da minha inocência para viver feliz e sem confusão.”

Alguns anos depois, um encontro decisivo me permitiu vislumbrar uma possibilidade de fazer, de verdade, como Ulisses, o caminho de volta. Porque, por mais fácil que seja se deixar levar, é difícil encontrar o caminho de volta quando a gente está perdido no meio de um oceano. É provavelmente por isso que a maioria de nós acaba desistindo.

Prem Rawat é frequentemente apresentado como embaixador da paz. Normalmente, esse título é concedido a pessoas que se destacaram na promoção do acordo pacifista entre os povos. E o mundo realmente precisa de pacificadores, pessoas que intervêm e dizem: “Ei! Vamos nos sentar e discutir, em vez de escolher o confronto.” Mas, essas pessoas são verdadeiros embaixadores, no sentido etimológico do termo: aquele que vem à embaixada de um país?

De acordo com essa definição, Prem Rawat é realmente um embaixador da paz. Ele já explorou territórios da paz, ele sabe como chegar lá. É desta região, não localizada no mapa, mas cujo território existe, que ele vem nos dizer: “O país de onde venho acolhe todo mundo e ali nos sentimos bem. Se você quiser ficar por lá, você não precisa obter um visto ou solicitar asilo. Pergunte ao seu coração e ele te deixará entrar: este país é seu.”

No dia 17 de junho, fará exatamente 50 anos que ele deixou seu país natal, a Índia, para ser um embaixador para todos aqueles que sentem a mesma “saudade de casa”. Certamente não é da Índia e suas tradições que ele é o embaixador – ainda que alguns se equivocaram sobre isso na década de 1970 -, mas desse espaço interior universal que constitui nosso DNA como seres humanos. Um país cuja única fronteira é a ignorância que o rodeia, embora estejamos tão perto dele. Mais perto do que nossos entes queridos…

“Não somos apenas moldados pelo nosso entorno ou por nossos próprios pensamentos, é dentro de nós que algo está acontecendo, algo muito mais poderoso.”

“Não subestime a magnitude da transformação que ocorre quando você se conecta com teu verdadeiro eu e se liberta das tuas correntes para encontrar a paz interior.”

Essas duas citações foram retiradas do novo livro de Prem Rawat, Apprendre à s’écouter da Edições du Seuil. Na minha opinião, é um livro importante porque nos dá um vislumbre da incrível possibilidade que é nossa, mas que nós colocamos no sótão do inacessível. Nós crescemos nos afastando aos poucos daquilo que constitui nossa especificidade como seres humanos: nossa faculdade de valorização das coisas mais elementares, aquelas que constituem o verdadeiro sal da vida, e tentamos nos preencher com todos os tipos de especiarias e cheiros exóticos que só nos deixam doentes.

Prem nos ensina a reaprender o gosto pela vida simples, em sua essência, um presente inestimável que tendemos a ter como certo porque nos é oferecido de graça. Ele nos convida a uma transformação, a um outro olhar sobre nós mesmos. Seu livro é como uma jornada de autoconhecimento, pensar em nossas qualidades intrínsecas, e o que podemos reviver para um maior brilho em nós mesmos e ao nosso redor.

Estou bem ciente de que disse pouco sobre este livro, que me mantive deliberadamente vago. Acabei de terminá-lo e já sei que terei que retomá-lo. O assunto que ele aborda e a forma como faz isso não se destina a preencher ainda mais a nossa biblioteca de conceitos. Ao contrário, ele nos ajuda a deixá-los um pouco de lado, a redescobrir o frescor da infância, a inocência à primeira vista, a promessa enterrada que pede apenas, para ser revivida.

É valioso que alguém venha lhe dizer coisas como: “Sem gratidão a vida parece um convite que recusamos ou, “Você tem uma história, aquela que escreve desde o dia em que nasceu, e é essencial que você seja sempre o personagem central dela. Não se esqueça de amar a pessoa que você é.”

Como salienta muito bem Serge Marquis, ele fez o prefácio de outro livro de Prem Rawat, atualmente relançado sob o título “A paz é possível”: “ Prem Rawat é, aos meus olhos, uma pessoa que me permite dizer: Nunca pensei nisso dessa forma.”

Entrevista com Serge Marquis

Mais um de meus artigos sobre, Apprendre à s’écouter, em nosso blog de expressão


Traduzido do francês por Aline Arana / Revisado por Simone Petry