Conhecemos somente pedaços de informação O que é relevante fica às escuras.

Nos países em desenvolvimento, é comum que as autoridades decidam as políticas públicas com base na conveniência de setores afins. Geralmente, essa manipulação de prioridades é realizada sem considerar a informação estatística ou pesquisas sociais sérias e comprováveis, o que seria o mesmo que diagnosticar e propor tratamento sem se dar ao trabalho de auscultar o paciente. A pesquisa dos números que definem o perfil real da sociedade em todos os seus aspectos, como se tenta fazer com os Relatórios de Desenvolvimento Humano da ONU, é uma atividade em que se baseia a maioria das decisões importantes para uma nação. O que acontece é que, às vezes, essa pesquisa não existe, ou caso alguma seja encontrada, buscando sua fonte de setor em setor, o provável é que esteja desatualizada, incompleta ou, no pior dos casos, incorreta.

É por isso que os analistas políticos, assim como os conhecedores do setor econômico, ávidos por opinar acerca do futuro — e inclusive os políticos que propõem ações para compor alguns dos inúmeros problemas que afligem a população — carecem de uma tremenda falta de especificidade em suas análises e estratégias. Em outras palavras, disparam com balas de chumbo, caso de repente atinjam o alvo.

A falta de informação confiável é um problema sério. Mais que isso, é grave. Afeta não somente qualquer projeção de ações concretas, mas também atinge uma parte sensível da soberania nacional, desde que não exista base contra a qual confrontar os dados manejados pelas instituições financeiras e organismos internacionais, que realizam suas próprias pesquisas e cujos relatórios constituem a base de discussão nas mesas de negociação, onde se anula o futuro do terceiro mundo.

Ainda que não fosse mais que isso, valeria a pena dar atenção ao tema das estatísticas oficiais e ao manejo correto e tecnicamente confiável dos dados dos quais dependem decisões de tamanha importância como a política fiscal, a alocação de recursos para os serviços de educação, saúde e moradia, e as estratégias cujo objetivo é captar o investimento estrangeiro. A busca pela precisão nos números de qualquer país é uma questão de grande urgência. Os resultados destas pesquisas constituem a base para a elaboração de uma plataforma estratégica coerente com a realidade de um país, e menos especulativa quanto as suas possibilidades reais e específicas de desenvolvimento econômico e social.

Segundo cálculos de relatórios de organismos internacionais e de governos locais a respeito de níveis de analfabetismo, crescimento demográfico, aumento da incidência da AIDS, mortalidade infantil, abortos clandestinos, toxicodependência e escassez de água, dá a impressão de que os países de nosso continente e aqueles outros que nos acompanham no amplo setor do terceiro mundo, estamos sempre diante de uma constante enganação estatística. A realidade é sempre outra, portanto, em sociedades tão complexas, a informação ajustada à realidade é um recurso vital para que as autoridades e os grupos de decisão saibam qual é a verdadeira topografia deste terreno obscuro e instável por onde transitamos.

Sem informações atualizadas e corretas, seguiremos esbarrando no escuro.


Traduzido do espanhol por Débora Lima / Revisado por Ana Carolina Carvalho